TESTEMUNHOS

Eduarda Teixeira

O meu marido é diabético. Em Maio de 2014 teve a infelicidade de bater com o pé numa secretária e remeteu-se ao silêncio. Passadas umas 3 semanas reparei que ele coxeava. Pedi para ver o pé e deparei-me com o que temia (tinha todos os sintomas de pé diabético). Ele não quis ir ao hospital, mas logo foi visto pelo seu médico que lhe colocou em tratamento. Ao fim de uma semana, o pé abriu ferida que não sarou e ao fim de 3 semanas começou a cheirar mal (não falando do sofrimento dele durante este tempo). Nesta altura teve mesmo que ser internado. Era dia 13 de Junho, foi ao bloco para fazer limpeza ao pé o que à partida tinha corrido bem. No dia 16 de Junho teve junto dele uma junta médica que depois de analisar a situação chegou à conclusão que o melhor seria a amputação. O mundo desabou nas nossas cabeças. Assim foi, dia 18 de Junho foi amputado acima do joelho porque a infecção já se havia expandido. Para além de todo este sofrimento vem outro: o pós amputação, o aceitar e pior ainda, a espera da prótese, que leva uma eternidade. Passados alguns meses ouvi no programa “A tarde é sua” da TVI que iriam falar da ANAMP (Associação Nacional de Amputados). Fiquei curiosa e vi o programa. Quem falou sobre a ANAMP foi a D. Paula Leite, Presidente da ANAMP, (também ela amputada). Achei tão interessante que fui ao Facebook e fiz um gosto na página. A partir daí comecei a receber as publicações da ANAMP. Um dia e já desesperada com a demora da prótese (já tinha passado um ano), entrei em contacto com a D. Paula e perguntei se ela me podia ajudar. Ela mostrou-se logo disponível e foi-me orientando do que havia de fazer (nesta ocasião fiz-me sócia da ANAMP). Passados 2 meses o meu marido foi chamado para colocar a prótese (dia 30 de Setembro de 2015). Neste momento, o meu marido está a fazer fisioterapia. Deixo o meu testemunho para as pessoas que estejam a passar pela mesma situação: não se acomodem, procurem ajuda, conseguimos soluções mais rapidamente, porque se não tivesse sido eu com a ajuda da D. Paula, uma vez que ele é ainda uma pessoa no activo, o processo ainda se encontraria em andamento. Aproveito para agradecer à ANAMP na pessoa da D. Paula Leite pela preciosa ajuda que nos deu. O meu muito obrigada.

Goreti Ribeiro | amputada

‘Corria o ano de 2000 quando tive um grave acidente de viação no qual tive que amputar a perna direita e tive que me submeter a 6 cirurgias à esquerda para não amputar a mesma.

 

O sofrimento era muito e a recuperação era lentas devidas as várias complicações que teimavam em complicar o desejado. (Queria levantar-me mas havia sempre algo ou alguma coisa que atirava para aquela maldita cadeira.)

 

Foram dois anos de cadeira de rodas em que me limitei a ver a vida passar, até que chegou o dia, o dia de me darem uma prótese, aquele dia em que pensei que a vida me iria sorrir de novo. Mas o que eu mais desejava tornou-se em uma realidade bem diferente do previsto. Deram-me uma prótese, uma simples perna artificial que era um corpo estranho para o resto da minha carne, atiraram-me para a selva urbana sem que ninguém me explicasse exatamente como funcionava a minha nova parte. Não fiz nenhuma fisioterapia específica, não tive ajuda psicológica e não tive qualquer acompanhamento técnico especializado. Foi como me darem um livro a quem não sabe ler. Podia aprender, mas para aprender era preciso que alguém investisse tempo em me ensinar. Por causa disso tudo andei sete anos da minha vida a carregar a minha perna e não a minha perna a carregar o meu corpo, veio o desânimo a angustia a frustração e os problemas financeiros. Já tinha desistido de mim, da minha felicidade e bem-estar, mas houve alguém que não desistiu, alguém que entendeu as minhas dores, as minhas necessidades e me devolveu a coragem de me mostrar ao mundo e não de me esconder. O seu nome é Paula Cristina Presidente da associação nacional de amputados, uma pessoa que conheci na internet, que me apresentou o seu projeto e a sua associação. Uma (amiga) que desde logo me ajudou a título pessoal oferecendo-me um joelho e a título profissional (ANAMP) foi incansável para arranjar o que me faltava para o resto da minha prótese. E caindo do céu como se de uma bênção se tratasse, surgiu a Ortoadapta que com uma sensibilidade fora do comum se ofereceu para me apoiar com o que me faltava.

 

Hoje posso dizer que o meu sorriso voltou, tenho uma nova parte de mim. Fiz o que nunca tinha feito tal como andar numa passadeira ou participar numa escalada adaptada. Hoje sou feliz não escondo que sou amputada até porque decidi mostrar ao mundo o que é uma prótese. A minha prótese é linda e hoje sinto vontade de viver sem preconceito.

 

Jamais irei esconder a minha prótese mas tudo isto devo à Paula Cristina presidente da ANAMP, ao Gonçalo e ao Marcos da Ortoadapta e aos meus amigos e familiares que deram o seu contributo, pois sem eles nada seria possível. Obrigada a estas pessoas tão humanas que me ajudaram a voltar a caminhar a recuperar a minha autoestima.’

Nelson Brito | administrador do hospital privado de gaia

“Quando o Sr. Prof. Horácio Costa, ilustre cirurgião plástico e que coordena a cirurgia plástica e reconstrutiva do Hospital Privado de Gaia, nos falou da ANAMP, pareceu-nos desde logo fazer todo o sentido conversar com os seus responsáveis para procurarmos identificar o que poderíamos fazer em conjunto.

 

E depois de reunirmos a primeira vez foi para nós clara a importância de estabelecermos uma parceria
com a Associação, uma vez que é óbvio o seu interesse para aqueles a quem se dirige e para a sociedade em geral.

 

Com a celebração de um protocolo que confere aos associados da ANAMP e seus familiares directos o acesso em termos preferenciais ao Hospital Privado de Gaia, entendemos estar a dar um primeiro (modesto) contributo para o desenvolvimento da ANAMP. E estamos certos de que este protocolo prestigia também o Hospital pois é celebrado com uma Associação que nos merece toda a consideração e carinho.

 

Fazemos votos para que a ANAMP consiga ampliar significativamente o seu número de associados para que possa ser cada vez mais forte a ajudar quem tem de enfrentar uma situação de vida traumática.”

Ana Isabel | psicóloga clínica

Foi com bastante interesse que tomei conhecimento da recém-criada Associação Nacional de Amputados e do seu compromisso em apoiar a Pessoa com amputação, trabalhando em prol de uma sociedade mais inclusiva.

 

Espero que esta associação possa dar um contributo importante na desmistificação da imagem de quem, por acidente ou doença se viu privado de parte do seu corpo.

 

Sendo a amputação uma brutal violação da integridade física e psicológica da Pessoa, ela desequilibra todas as esferas da sua vida. Todavia, e por se tratar de uma experiência-limite, a maior parte de nós nunca parou para reflectir sobre ela, a menos que a “má sorte” lhe tenha batido à porta. É assim com as principais condições de saúde graves. Creio que há neste “virar a cara”, um instinto supersticioso de protecção, mais do que propriamente indiferença…

 

Tranquiliza-nos pensar, que determinadas circunstâncias só acontecem aos “outros”.

O caso muda de figura, quando esses outros somos nós próprios, ou um dos nossos.

Então, talvez não seja uma perda de tempo olhar de frente este assunto.

Fortaleci esta convicção durante as horas que passei no Serviço de Cirurgia Vascular de um hospital, à cabeceira de pessoas recentemente amputadas.

 

Enquanto psicóloga clínica, contactei intimamente com o sofrimento físico e psicológico destas pessoas, nas suas variadas formas de expressão e intensidade.

Constatei que há na perda de um membro amputado, uma certa “perda de si próprio”…esta última, mais difícil de expressar porque mais subjectiva e dolorosa.

Considero que a Pessoa com amputação e a sua família precisam muito de receber apoio neste processo, se possível desde início da situação de crise. De outra forma será difícil um restabelecimento pleno e uma adequada reintegração familiar, profissional, social…

 

Neste contexto, o apoio do Psicólogo Clínico é essencial, tentando fazer emergir, através da palavra e da relação terapêutica, o desejo de sobrevivência e superação da Pessoa com amputação. Apoiando-a na reorganização da sua identidade, da auto-estima…

Sendo não menos importante, o apoio da equipa multidisciplinar que desejavelmente deve existir e intervir durante o internamento, a qual é composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros.

 

No regresso a casa, algo restabelecida, e mais afastada do meio hospitalar, a Pessoa amputada continuará necessariamente o seu processo de reabilitação física e psicológica, para o qual necessita do apoio e encorajamento da família e amigos, mas não da sua superprotecção.

É nesta fase exigente de adaptação, que devem existir associações como a ANAMP, junto das quais é possível obter algum apoio e aproveitar para falar com outras pessoas que viveram situações semelhantes e que poderão ajudar a encontrar respostas para alguns problemas.

Convém não esquecermos que, a solidão pode ser uma doença altamente infectante e portanto o isolamento social deve ser combatido nas diversas frentes.

 

Tempo ainda para congratular a ANAMP, na pessoa da sua presidente, e desejar-lhe os maiores sucessos na prossecução dos seus objectivos.

 

Bem Hajam!

Mari Almeida | atleta paraolímpica e modelo

Sou amputada da perna esquerda desde os 15 anos devido a um acidente de moto, mas tenho sido um exemplo de determinação e superação não só para pessoas com deficiência, mas para a grande maioria das pessoas que  me conhecem.

 

Deverei  representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos de 2016 no Rio na vela adaptada. Mas as minhas conquistas esportivas não se limitam a isso:

- Atual recordista brasileira no salto em distância e no arremesso de dardo (classes paralímpicas).

- Fui a primeira mulher amputada a completar a prova de São Silvestre usando muletas em 2012.

- Completei a Meia Maratona das Cataratas (21k, em Foz do Iguaçu) em 2013 usando muletas.

 

Em 2013 recebi prêmio Excelência Mulher da CIESP em reconhecimento à minha contribuição para uma sociedade melhor no sentido de motivar diversos segmentos da população, incluindo pessoas com deficiência e sem deficiência.

 

Mãe de três filhos, sou  também modelo fotográfico, tendo participado de campanhas publicitárias na mídia, destacando a beleza essencial de cada ser humano, independente de estereótipos ou preconceitos sociais. A minha  mensagem de superação tem tocado milhares de pessoas, seja nas provas de corrida de que participo, nas audiências das minhas palestras motivacionais ou no público que conheço no meu trabalho como modelo.

Jorge Pina | atleta paraolímpico

O meu nome é Jorge Pina e tenho 39 anos. A minha cegueira marcou um início de uma nova vida. Tornei-me mais forte e mais feliz. Encarei esta perda como uma lição de vida. Apercebi-me que algo maior estava guardado para mim, a minha missão neste mundo era outra. Com o meu exemplo de vida posso ajudar qualquer pessoa, independentemente da sua origem, religião ou deficiência. Acreditem em vocês como eu acreditei em mim! Descubram-se… Onde há vontade, não há limitações!

Joana Oliveira | empresária

Sim, é possível!

É esta a frase que defino quando sou confrontada com a problemática da amputação.

É possível viver para além disso, é possível todos os dias alcançar novas conquistas... e é possível ser feliz, por inteiro!

Vivo esta realidade, na qualidade de melhor amiga de uma mulher, das mais guerreiras que conheço, a presidente da ANAMP, e admiro a sua determinação! Se houve coisa que aprendi ao longo destes anos em que convivo com este, que poderia ser um, problema, foi que não é a perda de um membro que determina o nosso sucesso ou insucesso, o bem ou o mau estar! A falta de formação interior, a falta de amor, a inércia, a falta de dedicação, esses sim, são determinantes... essa, é e será sempre a maior amputação!

Luís Costa | atleta paraolímpico

Um certo dia, há quase 12 anos, a minha vida mudou para sempre em questão de segundos. Sofri um acidente que viação do qual resultou uma amputação transfemural.

Podia ter baixado os braços e deixar que os sonhos se desvanecessem. Mas não o fiz. Retomei a minha vida normal, adaptando-me à minha nova condição física.

Encarei a amputação como uma pequena limitação, não impeditiva de lutar pelos sonhos.

Hoje em dia até me sinto grato pela amputação, pois foi graças a ela que descobri o paraciclismo, há cerca de dois anos. E neste momento já estou qualificado para os Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro!

É perante o obstáculo que o homem (ou mulher) se descobre. Acreditem e vão conseguir!

José António Lopes | arquitecto

Em diversos momentos da nossa vida, todos experimentamos dificuldades no uso dos espaços que vivemos ou nos produtos que usamos. Por questões relacionadas com a idade, doença debilitante ou em consequência de um acidente, podemos ver condicionada, mais ainda, a nossa mobilidade e acessibilidade a espaços, bens ou serviços.

Considerando estes factos como uma realidade que é a de nós todos, sem excepção, importa colaborar com associações como a ANAMP- Associação Nacional de Amputados, que trabalham para minorar as dificuldades e conferir qualidade de vida aos nossos co-cidadãos amputados, dando voz e pública expressão à sua sensibilidade.

A adquadratum arquitectos, assume esta postura na sua prática profissional, colaborando activamente com esta e outras associações congéneres, empenhando as suas competências técnicas na resposta a solicitações específicas como à melhoria geral do meio em que todos vivemos.

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